A atividade de garimpo é bastante comum em várias regiões do Brasil. No Pará a atividade movimenta a economia de muitas comunidades, mas, apesar disso, vê-se diante de várias dificuldades e desafios, incluindo a exposição dos trabalhadores aos danos causados pelo uso do mercúrio. A mineração de ouro é especialmente desafiadora para as mulheres, que enfrentam preconceitos, além das condições precárias de trabalho e riscos à saúde.
Neste Dia Internacional da Mulher, o projeto Ouro Sem Mercúrio conversou com duas mulheres que trabalham no garimpo de ouro em Itaituba e que conhecem bem essa realidade. Maria Irlene e Cleciane compartilharam suas perspectivas sobre o garimpo de ouro e o que esperam do futuro.
A região onde Maria e Cleiciane trabalham faz parte da Província Mineral do Tapajós, também referida como a Província Aurífera do Tapajós. Essa região geológica abrange aproximadamente 100.000 quilômetros quadrados no coração da Bacia Amazônica e é rica em depósitos minerais, especialmente ouro. A mineração nessa área tem uma longa história, remontando ao século XIX, quando o ouro foi descoberto pela primeira vez. Atualmente, a Província Mineral do Tapajós é lar de várias operações de mineração convencional, bem como inúmeras atividades de mineração em pequena escala formais e informais.
Em busca de reconhecimento e dignidade
Maria, 57 anos, é natural do Piauí, mas vive no Pará há 30 anos e trabalha no garimpo desde então. Depois da morte dos pais, ela assumiu a responsabilidade pelo garimpo da família, onde trabalham 22 pessoas. Ela conta que o garimpo na região é marcado pela presença de garimpeiros migrantes, que chegam em busca de trabalho e acabam vivendo em condições precárias. A falta de infraestrutura básica, como saneamento, habitação e saúde, é um problema recorrente, segundo ela.
Cleciani, 34 anos, é moradora da comunidade Marupá, e tem a mineração como atividade de subsistência, seguindo a trilha de seus pais e avós. Ela ressalta que as mulheres são frequentemente contratadas para trabalhar na cozinha ou cantina do garimpo, enquanto os homens se responsabilizam pela extração do minério.
Apesar das dificuldades, Maria relata que ela e outros garimpeiros lutam para trabalhar de forma regularizada e com mais segurança. Ela enfatiza a necessidade de gerar empregos e de passar segurança aos trabalhadores e às comunidades próximas, enquanto buscam o sustento de suas famílias.
“A única coisa que hoje nós queremos em termos de trabalho é a nossa legalização, o nosso direito de trabalhar. Trabalhar com dignidade, ser visto como cidadão trabalhador”, declara Maria.
Maria defende que as mulheres têm um papel essencial na mudança da imagem do garimpeiro, frequentemente associado à figura do vilão. Ela acredita que as mulheres podem mostrar que é possível trabalhar com honestidade e dignidade nesse setor. No entanto, ainda há a luta pela igualdade de oportunidades e valorização do trabalho feminino no garimpo.
“É preciso enxergar a mulher garimpeira como alguém determinado e capaz de realizar um trabalho tão importante quanto o dos homens”, defende Maria.
Um futuro mais sustentável e responsável
Tanto Maria quanto Cleciane evidenciam os desafios que ainda existem na atividade e a importância de se buscar soluções mais justas e sustentáveis para todos os envolvidos.
Cleciane reconhece que o garimpo vive um momento difícil e que homens e mulheres estão expostos a riscos, especialmente do mercúrio, utilizado na extração de ouro. Porém, ela acredita numa melhora.
“A gente vai se modernizando cada dia mais, podendo agora ter uma oportunidade de trabalhar sem o mercúrio com esse novo projeto… e assim poder trabalhar mais tranquilos e podendo dar um suporte maior aos nossos funcionários”, reflete Cleiciane.
Maria compartilha que anteriormente o mercúrio era queimado ao ar livre, acarretando graves problemas de saúde. Atualmente, ela utiliza a retorta, que permite recuperar e reutilizar o mercúrio, reduzindo a quantidade do metal que é utilizada. Maria vê com entusiasmo os novos métodos que estão sendo desenvolvidos, pois acredita que trarão mais segurança e qualidade para o trabalho dos garimpeiros.
Ambas defendem que é importante que o governo e outras instituições se dediquem a encontrar soluções para os problemas enfrentados pelos garimpeiros, garantindo uma atividade mais segura e sustentável para todos os envolvidos.
As vozes de Maria e Cleciane são cruciais para a promoção de um garimpo mais seguro e responsável, que respeite as mulheres e opere de maneira sustentável. A adoção de tecnologias mais limpas e a valorização do trabalho das mulheres no garimpo são medidas importantes para garantir condições dignas de trabalho e preservação do meio ambiente.